Cruzando o Caminho do Sol - Corban Addison




Um belíssimo romance que nos atenta para uma cruel realidade. Cruzando o Caminho do Sol, de Corban Addison (Novo Conceito, 448 páginas, R$ 29,90), conta a história de duas irmãs e do advogado americano Thomas, nos mostrando um lindo entrelace e ao mesmo tempo abordando um tema muito importante, o tráfico humano e sexual.

Ahalya e Sita sĂŁo duas imĂŁs indianas de classe mĂ©dia alta, elas tinham a vida perfeita atĂ© que tudo Ă© destruĂ­do por um tsunami; em busca de ajuda, Ahalya e Sita acabam confiando em quem nĂŁo deveriam e vĂŞem a sua inocĂŞncia e liberdade serem roubadas. E, como simples objetos ou atĂ© mesmo um mero pedaço de carne, elas sĂŁo vendidas e passadas de mĂŁo em mĂŁo, ao que se revela ser sĂł a ponta do iceberg de uma rede de tráfico humano gigante. O destino final ou temporário acaba sendo um bordel em Mumbai e lá Ahalya nĂŁo tem para onde fugir, tem que aceitar o que lhe foi imposto, para o seu prĂłprio bem e o da sua irmĂŁ mais nova Sita. Assim ela acaba virando uma “beshya” (prostituta) e passa os dias seguintes suplicando para que o mesmo nĂŁo aconteça a sua irmĂŁ. O que parece ser um pedido atendido pode ser mais um desafio do destino.
Ahalya despertou no dia de Ano-Novo como um pássaro de asa quebrada. Ela falou, mas a alegria havia desaparecido de sua voz.
Pág. 92

Em contrapartida temos Thomas, um advogado americano que tenta construir a sua carreira de sucesso na empresa em que trabalha, mas todo seu trabalho lhe custou um preço. Sua esposa e sua filha. Um casamento desgastado. Quando sua esposa mais precisou ele nĂŁo estava inteiramente lá. Agora ela partiu, voltaou para sua terra natal e, como se nĂŁo bastasse, no trabalho as coisas tambĂ©m nĂŁo estĂŁo boas. Um ultimato lhe Ă© dado e, um acontecimento presenciado por ele, influenciará na decisĂŁo tomada. Escolha essa que mudará a sua vida de uma vez por todas. Trabalhando para ACES – uma ONG que luta contra o tráfico e a exploração sexual -, Thomas irá conhecer um novo mundo.

Os destinos de Thomas e Ahalya se cruzam, quando ele participa de uma operação na Índia. No entanto, é um pouco tarde para Sita. Ela se foi, ninguém sabe seu destino. Uma promessa é feita e a partir daí três vidas mudariam completamente.
- VocĂŞ sabe o que isso significa?
-O quĂŞ?- ele perguntou, levemente exasperado...
- VocĂŞ nunca ouviu falar sobre a pulseira de rakhi?...
Ela tentou organizar os pensamentos.
- É uma tradição indiana que remonta há milhares de anos. Uma mulher entrega a um homem uma pulseira para ser amarrada em seu pulso. A pulseira significa que aquele homem é seu irmão. Ele assume o dever de agir em sua defesa.
Pág. 219

Sem dúvida, Cruzando o Caminho do Sol superou as minhas expectativas. O livro aborda um tema forte, que é o tráfico humano e sexual, e o autor foi feliz nisso. Ele conseguiu tratar de forma brilhante, não deixando o livro pesado; a história flui normalmente, os capítulos vão se intercalando, ora mostrando Ahalya e Sita e ora mostrando Thomas.

Outro ponto a se destacar é o embasamento que o autor teve para construir a trama, nota-se que ele se aprofundou e pesquisou bastante esse universo e, apesar de se tratar de algo fictício, ele se baseou em muitas ONGs e instituições às quais visitou.

Este foi um livro - não só enquanto lia, mas também ao terminar - que me fez ficar pensando no que somos capazes de fazer com o próximo, até que ponto chegamos e como coisas idênticas a estas acontecem em nossa volta e muitas vezes não nos damos conta; isso não é só uma força de expressão, é a mais pura verdade, o tráfico humano e sexual se alastra por todo o mundo e é nos locais mais subdesenvolvidos que ele se alimenta.

Este é um livro que recomendo, se tornou uns dos melhores que já li este ano.

JULIANA BITTENCOURT



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