Apesar do aperto no peito, que me faz odiar os passarinhos cantando e tudo o mais, 

sei que precisava ler isso hoje, e que vou precisar ler de novo amanhã.
Para mim, ler é lembrar.
Pág. 194

Quando era mais nova, London e o irmão estavam na van do pai, no estacionamento do supermercado, esperando ele retornar. Seu irmão foi sequestrado e ela começou a gritar desesperadamente. Seu pai pegou a van e foi atrás dos sequestradores, mas eles sofreram um acidente. Foi quando London morreu. Às 4h33 seu coração parou de bater. Logo depois foi reanimada, mas um estranho evento ocorreu.

London se esqueceu do passado. Suas únicas lembranças eram do futuro, do que iria acontecer a partir do dia seguinte. Todo dia, ela anotava as lembranças, porque exatamente às 4h33 sua mente fazia uma limpeza e ela se esquecia de tudo.

O início do livro é confuso. Diferente de Antes de Dormir, a autora nesse livro não explica – de início – qual o problema de London e se você não tiver lido a sinopse ou as orelhas da capa vai se sentir confuso. À medida que a leitura avança e London vai explicando o problema, você começa a entender os bilhetes diários, as confusões na escola e a leitura começa a ficar gostosa. Quando Luke entra em cena e um romance se anuncia, fica ainda melhor. Luke é um fofo e é justamente tudo que London está precisando. Há também sua melhor amiga. Luke, Jamie e a mãe de London são responsáveis por sua sanidade. Adorei a construção dos personagens e do fato deles aceitarem que ela sabe qual será o futuro deles, mas não estão nem um pouco ansiosos para saber qual será e nem a pressionam sobre isso e outras coisas, como por exemplo qual o número da mega sena, rs.

Uma coisa que gostei em London é que, se algo ou alguém a magoou naquele dia, ela simplesmente não escreve no bilhete, simplesmente para não lembrar e sofrer novamente. Ela é corajosa, determinada. E tenta levar uma vida normal, à medida do possível.

Meu rosto queima quando caminho até a frente da sala para pegar o passe da mão do S. Ellis. Deixo a sala de aula e, no corredor, meu constrangimento diminui rapidamente. Esse é o tipo de mancada que sempre vou odiar: os pequenos erros que me fazem parecer uma idiota.
Mas, hoje não.
Hoje tem neve no pátio.
Hoje tem Luke.

Pág. 50

Outro ponto alto da história é quando ela lembra algo do passado. Desde o acidente é a primeira vez que isso acontece e esse fato serve de base para o que irá acontecer no restante do livro. Você fica curioso para saber o que é e vai lendo com aquela vontade gostosa de descobrir logo.

Gostei bastante de Deslembrança, de Cat Patrick (Intrínseca, 256 páginas, R$ 24,90). O final supera o início confuso, apesar dele ser bem corrido. A autora poderia ter se alongado mais na história, mas acho que por não ser uma história policial ou de suspense, ela preferiu não se aprofundar nesse quesito.  Recentemente a autora deu entrevista para a Revista Magazine e disse que está escrevendo seu próximo romance. O enredo é bem original.

Você já está escrevendo seu próximo livro, “The originals”. Como ele será?
CAT: Ele é sobre três clones que vivem como uma pessoa para evitar seus passados. Eles dividem os dias em três turnos: um vai à escola de manhã, o outro à tarde e o último assiste a aulas à noite e tem um trabalho noturno. É um livro sobre pessoas que tentam se encontrar, quando você se sente apenas como mais um na multidão. Tem romance e mistério.

Entrevista completa AQUI. Cat também conta sobre o andamento da adaptação do livro para o cinema.

A autora comentou que escreveu Deslembrança depois de ter as gêmeas. Ela passava muito tempo acordada, estava cansada e esquecendo-se das coisas. Resolveu colocar no papel e o romance saiu. Lembrei de Chelsea Cain, durante a gravidez, ela teve muita insônia e dessa insônia resultou a série Archie & Gretchen.