Mas eu me recuso a tirar o quadro da parede, não importa o que Hélene diga. Ele me lembra você, e a época em que fomos felizes juntos. Me lembra que a humanidade é capaz de amor e beleza, assim como de destruição. - Sophie
A garota que você deixou para trás (Editora Intríseca, 384 páginas, R$29,90) se divide em duas partes, a primeira em 1917 e a segunda em 2006. A primeira se passa durante a Primeira Guerra Mundial, onde Sophie Lefèvre vive com os irmãos e os sobrinhos em sua pequena cidade natal, agora ocupada pelos soldados alemães.
Sophie te surpreende e te conquista no primeiro capítulo, nas primeiras cenas, em suas primeiras palavras. Não há como não admirar sua generosidade, inteligência, fé e lealdade. Sophie tem tantas qualidades que em determinados momentos senti vontade de conhecê-la somente para poder vê-la de perto e poder falar o quanto eu a achava uma mulher especial. Não me canso de tecer elogios a ela, porque a cada página lida, tudo que eu pensava se confirmava cada vez mais, e a além de tudo que já falei sobre a Sophie, não posso deixar de falar sobre a mais importante: a sua esperança. Ela é quase uma Poliana (conhecem esse livro?!), porém mais madura e sofrida, sem se deixar cair na fantasia, mas também sem perder a esperança de que no final tudo pode dar certo.
No decorrer da primeira parte é mostrado em cenas e relatos chocantes, o desportismo do exercito alemão, a escassez e violência que a guerra mundial trouxe, vemos o quanto deve ter sido sofrido e duro a vida das pessoas que passaram por esse período. Essa parte é passada numa pequena cidade da França, onde todos se conhecem, se ajudam, se gostam, mas que também julgam uns aos outros. Sophie e sua irmã possuem um hotel que já viveu seus momentos de glória, mas que no momento não tinha nem talher suficiente para servir.
Para suportar esse período que nem mesmo sabe se terá um fim, Sophie apega-se às lembranças do marido Édouard, que é pintor, admirando um retrato seu pintado por ele. Retrato esse que desperta diversas emoções e sentimentos de quem o vê. O quadro chama então a atenção do novo comandante alemão. Ele e Sophie desenvolvem uma estranha relação de amizade e ela em nome do amor que sente por seu marido arrisca tudo — a família, a reputação e a vida — na esperança de rever Édouard, agora prisioneiro de guerra.
"Saiba, minha querida, que marco cada dia, agradecendo a Deus pelo fato de cada um significar que seguramente devo estar vinte e quatro horas mais perto de voltar para você."
Edouard.
Na segunda parte do livro, quase um século depois, em Londres dos anos 2006, Liv Halston, a jovem viúva mora sozinha numa moderna casa com paredes de vidro, construída pelo seu falecido marido, um renomado arquiteto. Ocupando lugar de destaque em seu quarto, se encontra um retrato de uma bela jovem, presente do seu marido pouco antes de sua morte, o retrato de Sophie. E Liv tem nesse quadro uma representação do amor e da vida passada que viveu com seu marido que perdeu de forma tão prematura.
Depois de conhecer o encantador Paul, um ex-policial divorciado, Liv finalmente parece disposta a voltar à vida. Paul é aquele mocinho que não chega se anunciando, mas vai surgindo aos poucos, se firmando pelas beiradas e quando nos vemos estamos totalmente aos seus pés e na sua torcida. Mas por um acaso do destino, ou não, uma situação inesperada vai revelar o verdadeiro valor daquela pintura e sua tumultuada trajetória para chegar até a Liv. Ao mergulhar na história da garota do quadro, Liv vê mais uma vez, sua própria vida virar de cabeça para baixo.
Nesse livro que alterna cenas tristes e alegres e trás muitas surpresas, mistérios e reviravoltas, em muitos momentos tive sentimentos de dualidade, porque muitas vezes fiquei bastante irritada com a Liv, não conseguia aceitar sua teimosia. Mas em outros me colocava em seu lugar e ficava sensibilizada com sua situação. Confesso que queria mais momentos Sophie e menos Liv.
Esse é apenas o segundo livro da Jojo que leio, (gostei muito de A ultima carta de amor. Como eu era antes de você ainda está na fila) mas já percebi que ela gosta de temas que envolvem passagem de tempo e vidas que se cruzam mesmo em anos distantes, também observei que seus protagonistas, são pessoas de carne e osso, que erram, tem seus exageros e defeitos, mas também podem ser apaixonantes e cativantes. Com muita habilidade, a Jojo sabe construir uma história marcante e envolvente.
A cada livro que leio procuro acrescentar algo para mim, tento refletir o que posso levar dele para minha vida e o que levo desse livro é que se você deseja muito algo, você deve ter coragem e não desistir independente de qual seja o final e que nas situações mais extremas e duras é que você descobre o quanto você é forte e pode ir além do que pensava que conseguiria.Você termina a leitura desse livro mais sensível, mais consciente e agradecendo por tudo que você possui seu redor. Recomendo!
Bjos e até a próxima.