A resenha de hoje é Destinos do Amor (Cherish, 2019, 301 p.) da autora Amie Knight, um livro único que marca muito bem o início da editora no Brasil. Melhor escolha, impossível. E todo o conjunto da obra não deixa a desejar, começando pela capa, que no primeiro momento dá ao leitor uma ideia da história, mas que vai fazer muito mais sentido no final.
Em "Destinos do Amor" me emocionei com a jovem Everly Woods que não teve a oportunidade de escrever a sua própria história, pois escolheram um começo bem difícil na vida para ela. Abandonada ainda bebê em uma estação de trem, a qual ganhou o nome que foi batizada. E conforme vai crescendo, o dia a dia não deixa de ser difícil. Pulando de lar em lar adotivo, Everly precisou se virar da forma que conseguia em meio a fome e não tendo um lugar quente para deitar a cabeça. Quando a vida te dá falta de opções, a pessoa precisa se virar, e nossa protagonista acaba escolhendo o errado, colocando sua vida em risco e fazendo da linha do trem seu meio de subsistência. Roubando.
"Por essa fração de segundo, eu não era o "O Bebê Everly Woods". Esse foi o nome que os bombeiros me deram. Afinal de contas, como alguém poderia chamar um bebê de cinco meses encontrado no lixo da estação Everly Woods?"
Em um dia, em meio a adrenalina e culpa pelo que faz, Everly conhece uma pessoa bondosa que estende a mão e são essas poucas horas que mudam a vida da jovem. Passando de alguém que nunca havia sentido nada a ter tamanha compaixão vinda de um estranho. Um caubói que realmente a vê como ninguém antes, e ainda lhe oferece água e algo para comer. Esse dia afeta Everly como nada e ninguém conseguiu.
Quatro anos depois, Everly consegue um trabalho de verão que a afastará de Momma Lou, a alma bondosa que a acolheu como uma mãe anos atrás no abrigo que é responsável. Mas esse novo trabalho a ajudará a ter um dinheiro só seu e talvez pensar mais no futuro, e assim chega na pequena cidade de Canton e é levada até a fazenda de Joe. E o primeiro caubói que Everly conhece é o divertido Cody, que acaba sendo caracterizado como o amigo gay da protagonista, mas que conforme a leitura prossegue, percebi que ele fugia muito do esteriótipo "amigo gay" e isso foi tão refrescante. As tiradas engraçadas, a personalidade alegre e o amigo para toda hora foram complementos para um personagem que também tinha suas próprias batalhas.
"Tinha feito meu primeiro amigo. Pode ser um caubói gay maluco, mas mendigos não podiam escolher, e eu era uma mendiga desde o dia em que nasci."
Em poucas páginas e com essa breve visão da história fiquei super cativada. Por ser ambientado em uma cidade pequena lembrei dos romances fofos da Rachel Gibson que tanto amo, e preciso ressaltar bem que não há muitos livros de caubói por aí, e nem lembro qual foi o último nesse estilo que li. Talvez 2011? Não sei. E nem foi em português. Mas Amie Knight fez inimaginável, transformando uma fazenda que cultiva pêssegos em um lugar mágico, mas calma, esse não é um livro de fantasia, no entanto, a autora tem uma escrita tão ritmada que faz paisagens, personagens, diálogos e sentimentos serem diferentes do comum em um romance contemporâneo.
E surpreendentemente é na fazenda de Joe que Everly vai reencontrar Cole, a mesma pessoa que a ajudou no trem, só que agora o aquela pessoa com um coração bondoso havia mudado. Quatro anos é um tempo muito longo e gera mudanças nas pessoas, e infelizmente, Cole ganhou algumas sacudidas da vida que o tornaram um tanto rancoroso e menos sorridente. Esse reencontro vai abalar os dois de maneiras diferentes.
"Porque uma versão mais jovem de mim lhe entregara o coração anos atrás. Porque eu queria que ele gostasse da mulher que eu era agora."
Com pontos de vista diferentes variando entre Cole e Everly entre os capítulos, o leitor consegue distinguir a intensidade dos sentimentos de ambos, como cada um vê o reencontro e acompanhamos pequenos flashbacks do primeiro encontro do casal, que foram muito bem utilizados pela autora.
Everly é alguém cheia de dores e baixa auto-estima, mas na fazenda de Joe vai perceber que cada dia é perfeito para aprender algo novo e abrir o coração para novas pessoas.
"Nem sequer me reconhecia mais. Estava me transformando em um monstro. Todos os dias, parecia perder um pouco mais de mim e não sabia como parar. Não sabia como me recuperar. Eu havia perdido a mim mesmo."
E por último, mas não menos importante, nosso caubói maravilhoso, tanto por dentro como por fora. Conhecemos dois lados do Cole Briggs muito diferentes. Temos o Cole que é caloroso e o outro Cole que foi muito magoado, e em nenhum momento isso me enervou. Sabe aquela história em que os personagens masculinos são fofos em um momento e no outro, extremamente babaca? Aqui não existe isso, pode ficar despreocupada. Cole mudou, mas é uma guerra interna, ele não saí por aí magoando as pessoas. Ele ganhou meu respeito.
Eu poderia ter falado do Cole logo no começo dessa resenha, mas decidi esperar o final porque acho que esse livro é totalmente sobre a vida da Everly. Cole é um adendo e eu nunca tinha lido nada parecido, onde uma personagem não fosse rica ou privilegiada, que tivesse muitas pessoas ao seu redor com o braço estendido para ajudar quando precisasse. Esse livro é sobre luta, pessoas reais que estão lá fora. É sobre ser generoso sem pedir nada em troca. É humano.
"Não disse a ele que não sorria daquela forma há anos. Embora isso fosse o que eu realmente queria dizer. Queria lhe dizer que ele tinha feito mais do que apenas me dar comida. Ele alimentara minha alma faminta."
"Destinos do Amor" tem uma pontinha no jovem adulto (young adult), mas em toda sua essência, ele é um novo adulto (new adult). Temos personagens com mais de 20 anos aprendendo sobre a vida, se redescobrindo e dando uma segunda chance a si mesmo. Uma leitura com uma boa carga emocional, sem personagens perfeitos e que fala sobre a importância da família, mesmo que ela não seja sua família de sangue.