Milo Yiannopoulos é louco e isso não é novidade para ninguém. Mas Dangerous (Faro Editorial, 2018, 288 p.) foi o livro mais necessário que li nos últimos tempos. Casou bem com o período político atual do Brasil, na verdade, mundial mesmo. Politicamente incorreto e extremamente ofensivo em quase todas as páginas, é como se você estivesse lendo algo proibido e malvado. Como em filmes e séries que torcemos pelo vilão se dar bem.
Ele foi banido do Twitter, teve discursos cancelados em universidades e, aos quarenta e cinco do segundo tempo, a editora americana desistiu da publicação deste livro. Justamente pela figura polêmica que ele é e o que discursa soa controverso à sua realidade. Afinal ele é gay, faz parte de uma minoria, mas é totalmente homofóbico e acha que não deveriam ter políticas específicas para esses grupos. Isso te lembra alguém?
Milo é um enigma. Enquanto ele adora Trump, chamando-o de "papai", ele também esmaga o Partido Republicano e critica a esquerda. Acima de tudo, ele é um feroz defensor do direito das pessoas de dizer o que quiserem e não perder a carreira por causa disso, neste ponto ele fala sobre ele mesmo. Aliás, o narcisismo do Milo impera neste livro.
“Quero que as pessoas possam fazer piadas e discutir o que quiserem. Eu não acho que as pessoas devam ser excluídas por isso. ”
Mesmo que você não goste de Milo, ele traz questões sérias sobre grupos políticos que fazem você pensar. Ele critica os republicanos por serem politicamente corretos e os democratas por serem intolerantes, o tempo todo usando gracejos de humor. Um humor ácido, quase cruel.
“Crianças negras, crianças lésbicas e crianças deficientes não precisam se ver na tela tanto quanto precisam ser expostas a uma grande variedade de idéias. A diversidade de cor da pele não é nada comparada à diversidade de opinião, e a ideia de que as pessoas não conseguem se identificar com personagens de filmes ou videogames porque não têm a mesma raça ou sexo é uma invenção ridícula da esquerda progressista. ”
Admito que esperava que este livro tivesse a linguagem característica dele, bem debochada, cheio de insultos e extremamente narcisista. Mas Dangerous me surpreendeu por ser bem elaborado, fundamentado em pesquisas, atencioso e abordando questões sérias.
Ele traz estatísticas aprofundadas sobre variados assuntos e que, em muitos momentos, você tem que parar e abrir a mente para ler sem rotulá-lo. No capítulo sobre feminismo, pensei: "Que propriedade este ser tem para falar sobre feminismo?" Mas aí ele traz uns dados interessantes sobre algumas situações que não se igualam aos gêneros, para feministas de mente aberta os dados são mais para refletir, porque no geral os ideiais de Yiannopoulos é utópico.
“Eu preferiria um mundo sem política de identidade. Eu preferiria que julgássemos as pessoas de acordo com a razão, a lógica e a evidência. ”
Dangerous é um livro que instiga pessoas de todos os diferentes grupos políticos a se unirem, apesar dos pesares. E o jeito de fazer isso? Bem, através da famosa liberdade de expressão. Um direito de todos, mas que por muitos momentos insistem em censurar.
O livro é um saldo positivo pra mim, que li com a mente aberta, mas que muitas pessoas também podem fazer, pois é uma leitura extremamente necessária em tempos tão caóticos e controversos.